sexta-feira, março 30, 2007



Argentina II.

O voo de Buenos Aires para Ushuaia demora quase 4 horas. O dobro que para Santiago do Chile e seis vezes mais que para Montevideo. Concordo com a demora. Se se vai para o fim do mundo, a coisa não pode demorar pouco. A chegada é monumental: sobre o canal de Beagle, com o fim da cordilheira ao fundo e a baía da cidade mais austral do mundo, no horizonte. Estão menos 22 graus que em Buenos Aires, cheira a mar, a lenha e o ar é frio e sabe bem. Os fueguinos são amáveis e passado duas horas estou em cima de um glaciar. Ao terceiro nevão -no fim do mundo até no mar neva- , ainda não descobri como fazer uma mochila, para um país onde tenho amplitudes térmicas de 45 graus. depois, tudo se resolve: seco as sapatilhas na salamandra do Museo Marítimo, antiga prisão de curiosas personagens, do anarquista russo Simón Radowitzky a um tal Charles Gardelle; preparo um mate e depois outro e remato a manhã com cordeiro patagónico. Noites curtas com o Cruzeiro do Sul, acho eu, por perto. Estrada, neve, a
Estância Harberton, fundada pelo missionário, vindo das Falklands, Thomas Bridges, autor do primeiro dicionário Inglês-Yamana. O seu bisneto, Thomas Goodall continua a tradição da família. Tal como o seu bisavô, fala quase só inglês. Ele, e a sua mulher americana Rae que abriu, nos terrenos da estância, o Museo Acatushún de Aves y Mamíferos Marinos Australes. Há 30 anos Bruce Chatwin andaria por aqui. Anos antes, as suas personagens teriam, se bem me lembro, andado.
Mais estrada e floresta; os lagos e os cumes nevados; canoas; caminhos; conversas; asado; raviolis de abóbora e cerveja artesanal Beagle; amigos novos, risos e sopa de santolla; Last Minute Antártida a 3500USD; o estreito de Drake; um companheiro de quarto, polaco e biólogo, a fazer tempo em Ushuaia, de regresso a casa depois de quatro meses na Antártida; o pequeno almoço de mate cozido e pão italiano com um jornal chamado El Diario del fin del Mundo; o quebra-gelos
Irízar; a pele queimada ao Sol e ao frio da Provincia de Tierra del Fuego, Antártida e Islas del Atlántico Sur; pesos, euros e bilhetes de avião; nomes, horários, telefones preciosos, doce de calafate e mais mate; despedidas e um taxista que antes de me deixar no aeroporto, pergunta: "de que parte de la República sos?". Mítico.



3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mítico e inspirador. Continua, grande Nuno, assim é que vale a pena. Depois conto-te as minhas para o outro lado.

Uma beijoca,
Joana

7:42 da tarde  
Blogger jp diniz said...

até me faltou o ar na leitura. abraço

6:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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12:17 da manhã  

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