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Como já antes contei aqui, há uns anos vivi por pouco tempo no Morro do Vidigal no Rio de Janeiro. Hoje ao ler esta notícia, lembrei-me de amigos, ou pais de amigos que ainda por lá vivem. Pela notícia percebi que não podia ser a Carmela, cuja idade exacta não consigo dizer, mas foi mãe do meu amigo ainda adolescente e ele não tem mais de 40 anos. É algo perversa a ideia de tentar perceber, se afinal a notícia é sobre alguém que conhecemos ou não. Mais perverso é o alívio quando, no fim de tudo, percebemos que não é.
D. Carmela é uma personagem fascinante. Natural duma vila costeira do Ceará, casou jovem e foi mãe ainda menor. Por voltas da vida, deixou o filho ainda bébé, com os seus pais e marido e foi atrás da sorte, para o Rio, do fim dos anos sessenta. O que fez e desfez, nessa época, não sei. O filho voltou a conhecê-la aos catorze anos, depois de sair do Ceará para o Rio, com uma escala de dois anos em S. Paulo. Instalaram-se no Morro do Vidigal, o filho foi crescendo e trabalhando em tudo o que arranjava, até subir de ajudante de copa, a maître de restaurante, do melhor hotel do Rio.
Carmela foi casando e descasando, procurando o homem e a vida que era melhor para si. O amor que sempre foi sólido, foi o dela pelo seu filho e o dele por ela. Conheci-a em 1998, com um marido vinte anos mais novo, com sua lanchonete na favela e sua maneira simples e boa de viver. Tratou-me como o filho gringo, zelando por mim, safando-me de bêbados e prostitutas ou do maluco de serviço que passava pela sua lanchonete. Voltei a vê-la em 2003, desta vez loira mas sempre fresca. A lanchonete tinha descido para a entrada da favela (mais perto do mundo e, por conseguinte, mais seguro). Entre estórias e piadas, passei muitas noites de cerveja e salgadinho à conversa com ela e com as diversas personagens que por lá passavam, sempre debaixo da sua asa. O seu humor, a sua forma de lidar com as voltas da vida (que no seu caso foram mais que muitas) e a sua força para seguir a luta, foram uma lição para mim. É uma pessoa por quem tenho um afecto especial. E hoje, depois da notícia, pensei nela. Só isso.
Como já antes contei aqui, há uns anos vivi por pouco tempo no Morro do Vidigal no Rio de Janeiro. Hoje ao ler esta notícia, lembrei-me de amigos, ou pais de amigos que ainda por lá vivem. Pela notícia percebi que não podia ser a Carmela, cuja idade exacta não consigo dizer, mas foi mãe do meu amigo ainda adolescente e ele não tem mais de 40 anos. É algo perversa a ideia de tentar perceber, se afinal a notícia é sobre alguém que conhecemos ou não. Mais perverso é o alívio quando, no fim de tudo, percebemos que não é.
D. Carmela é uma personagem fascinante. Natural duma vila costeira do Ceará, casou jovem e foi mãe ainda menor. Por voltas da vida, deixou o filho ainda bébé, com os seus pais e marido e foi atrás da sorte, para o Rio, do fim dos anos sessenta. O que fez e desfez, nessa época, não sei. O filho voltou a conhecê-la aos catorze anos, depois de sair do Ceará para o Rio, com uma escala de dois anos em S. Paulo. Instalaram-se no Morro do Vidigal, o filho foi crescendo e trabalhando em tudo o que arranjava, até subir de ajudante de copa, a maître de restaurante, do melhor hotel do Rio.
Carmela foi casando e descasando, procurando o homem e a vida que era melhor para si. O amor que sempre foi sólido, foi o dela pelo seu filho e o dele por ela. Conheci-a em 1998, com um marido vinte anos mais novo, com sua lanchonete na favela e sua maneira simples e boa de viver. Tratou-me como o filho gringo, zelando por mim, safando-me de bêbados e prostitutas ou do maluco de serviço que passava pela sua lanchonete. Voltei a vê-la em 2003, desta vez loira mas sempre fresca. A lanchonete tinha descido para a entrada da favela (mais perto do mundo e, por conseguinte, mais seguro). Entre estórias e piadas, passei muitas noites de cerveja e salgadinho à conversa com ela e com as diversas personagens que por lá passavam, sempre debaixo da sua asa. O seu humor, a sua forma de lidar com as voltas da vida (que no seu caso foram mais que muitas) e a sua força para seguir a luta, foram uma lição para mim. É uma pessoa por quem tenho um afecto especial. E hoje, depois da notícia, pensei nela. Só isso.
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