domingo, junho 20, 2004



Enquanto se discute a constitucionalidade da "Lei de discriminação positiva" (que permitiria às mulheres, vítimas de maus tratos, verem os seus agressores ser julgados de forma mais expedita), as coisas vão mudando ou, pelo menos, a esperança é maior e o medo mais fácil de controlar. Sexta-feira, na fila do banco, ouvia a conversa da senhora atrás de mim. Enquanto, junto com o filho pré-adolescente, esperava pela sua vez, comentava pelo telefone: "…sim, estou bem, o juíz deu-lhe mais seis meses, para juntar à pena. Agora já é um ano." e "…ontem ainda tentou, mas hoje saiu a ordem de de 500 metros de distância, (…) agora já não pode…" . Quando saí, olhei para a senhora, a sua pose tranquila, sem vergonha, e o seu ar absolutamente comum e corrente, deixaram-me algo desconcertado.
Não sabia quem eram, o que faziam ou como viviam. Sabia que morria uma, cada cinco dias, vítima do companheiro, do pai, do marido ou do irmão. Agora já sei que têm cara, filhos, conta no banco e vontade de seguir para a frente com a sua vida. Agora já sei. Nunca a dignidade, me tinha sido ensinada assim.